sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

O dicionário técnico de Francisco de Assis Rodrigues

Em 1875, Francisco de Assis Rodrigues (1801-1877) publicou um Diccionario Technico e Historico de Pintura, Esculptura, Architectura e Gravura (Lisboa, Imprensa Nacional) onde, como o título sugere, inventaria e explica toda uma série de termos técnicos relacionados com as obras de arte, nomeadamente sobre materiais e técnicas. O livro reflecte a tradição que remonta, pelo menos, a Filipe Nunes.

Em tempos coloquei alguns extractos do mesmo em http://ciarte.no.sapo.pt. Actualmente está disponível integralmente em http://purl.pt/977/1/, ainda que com imagens com resolução insuficiente. O livro está a ser processado no âmbito do projecto Distributed Proofreaders, onde é possível obter-se uma reprodução de muito melhor qualidade, e virá a ser distribuído na forma de texto através do Projecto Gutenberg – o mais antigo projecto de digitalização e disponibilização gratuita de livros em formato electrónico.

Sobre o autor escreveu Inocêncio (Dicionário Bibliografico Português):

FRANCISCO DE ASSIS RODRIGUES, filho de Faustino José Rodrigues e D. Febronia Rosa do Carmo, n. em Lisboa aos 12 de Outubro de 1801.‑Aos onze annos de edade, no de 1813, matriculou‑se como discipulo na aula e laboratorio de Esculptura, então addida á Repartição das Obras Publicas, da qual era professor proprietario o insigne Joaquim Machado de Castro, e substituto o dito seu pae. Cursando ao mesmo tempo os estudos de humanidades, e das linguas franceza e italiana, completou aos vinte e dous annos de edade os dez de estudos do curso de desenho e esculptura, na conformidade do regulamento respectivo, e passou á classe de Ajudante da referida aula, por aviso de 30 de Dezembro de 1823.

Pelo falecimento de seu pae, occorrido em 11 de Fevereiro de 1829, foi interinamente encarregado da regencia da aula, e pouco depois preferido em concurso a tres outros oppositores, e nomeado professor em 25 de Maio de 1829.

Na fundação da Academia de Bellas Artes por decreto de 25 de Outubro de 1836. foi‑lhe dado o logar de Professor proprietario d'Esculptura, e por falecimento do doutor Francisco de Sousa Loureiro, Director geral da Academia, foi, sem o requerer, proposto e promovido a este logar por decreto de 7 de Maio de 1845, e o tem exercido até o presente.

São de sua invenção e composição a estatua representando a Piedade, collocada em um dos nichos do vestibulo do real palacio d'Ajuda, a da Naiade no centro da cascata do passeio‑publico; a de Gil Vicente no angulo culminante do frontão do theatro de D. Maria II. Tambem são seus os modelos e a direcção da esculptura do grupo do tympano do mesmo frontão, que representam Apollo, e as Musas; a Comedia e a Tragedia sobre os angulos; e as quatro partes do dia nas tabellas do attico: sendo os respectivos desenhos do professor Antonio Manuel da Fonseca.

Esculpiu dous genios em marmore de Italia, um representando o Amor dormindo, cópia de um modelo de C. A. Fraikin, estatuario belga; outro de sua composição, representando a Musica, ambos para sua magestade elrei o senhor D. Fernando.

É tambem de sua composicão e execução a estatua de Camões de grandeza natural, e um pequeno grupo, em que apparece o Genio da Nação, librado nas azas, em attitude de coroar o poeta.

Modelou, e reduziu a gesso e a cêra, o busto do retrato do seu amigo o sr. A. F. de Castilho. Modelou egualmente os retratos do P. Miguel Andre Biancardi, e do seu amigo, o Antonio Evaristo do Valle, que passou a marmore, e collocou no respectivo tumulo no cemiterio dos Prazeres: e bem assim os do Vice‑inspector da Academia, o marechal João José Ferreira de Sousa, dos professores da mesma Benjamin Comte, J. F. Ferreira de Freitas, Domingos José da Silva, etc. etc.

A noticia, bem que succinta dos trabalhos artisticos do illustre professor, era sem duvida muito interessante para que houvesse de preteril‑a, encontrando‑os assim mencionados nos breves apontamentos biographicos com que elle, a rogo meu, se dignou favorecer‑me; por isso aqui a reproduzo textualmente, embora esses trabalhos não tenham relação immediata com o assumpto do Diccionario.

Os seus escriptos, até agora publicados, são:

569) Memoria de Esculptura, apresentada e preferida no concurso para o provimento do logar de professor substituto da Aula e laboratorio de esculptura. Lisboa, na Imp. Reg. 1829. 4.º de 15 pag.‑D'ella se tiraram sómente 175 exemplares.

570) Methodo das proporções e anatomia do corpo humano, dedicado á mocidade estudiosa, que se applica ás artes do desenho. Ibi, na Typ. de A. S. Coelho 1836. fol. com uma estampa.

571) Commemoração, ou breve biographia do insigne professor Joaquim Machado de Castro. Inserta na Rev. Universal Lisbonense, n.° 9 de 17 de Novembro de 1842.

572) Dita de Faustino José Rodrigáes, seu pae. No mesmo jornal, n.° 21 de 9 de Fevereiro de 1843.

573) Discurso pronunciado na sessão publica triennal, e distribuiçüo dos premios da Academia das Bellas Artes de Lisboa, na presenca de SS. MM. FF. e Altezas, em 30 de Dezembro de 1852. Lisboa, na Typ. de Jose Baptista Morando 1852. 8.º gr. de 19 pag. (E junto a elle se acha o Relatorio, lido na mesma occasião pelo professor Francisco Vasques Martins, Secretario da Academia.)

574) Discurso pronunciado na sessão publica trimensal, e distribuição dos premios, etc. etc. em 25; de Outubro de 1856. Ibi, na mesma Typ. 1856. 8.º gr. de 15 pag. (Seguido do Relatorio do Professor Secretario, como o antecedente.)

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