segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Tecnologia da policromia das esculturas de Minas Gerais no século XVIII

A seguinte tese está livremente disponível na internet:

Luiz Antônio Cruz Souza, Evolução da Tecnologia de Policromia nas Esculturas em Minas Gerais no Século XVIII: O interior inacabado da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Catas Altas do Mato Dentro, um monumento exemplar, Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, 1996.

A tese está aqui.

Resumo:

O interior inacabado da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Catas Altas do Mato Dentro, Minas Gerais, constitui-se numa oportunidade única para estudar-se e documentar os passos e técnicas para a execução da policromia de esculturas e retábulos em Minas Gerais no período colonial. No teto e nas laterais do interior da igreja há partes mostrando somente a madeira, pronta para receber as camadas de pintura, e outras partes inacabadas, nas quais somente foram aplicadas as primeiras camadas da base de preparação. No mesmo interior da Igreja encontram-se ainda partes totalmente terminadas, mostrando esgrafiado, douramento, prateamento e veladuras, além de outras técnicas. Trata-se, portanto, de uma fonte preciosa de informações, que poderia ser comparada `a uma cápsula do tempo. Foram retiradas 147 amostras dos altares laterais, do Altar-mor, e das decorações inacabadas no interior da Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, com o objetivo de se estudar a estratigrafia das camadas, os pigmentos utilizados, os aglutinantes, vernizes, veladuras e os corantes presentes nas esculturas e altares, de modo a contribuir para um maior conhecimento da tecnologia de construção de policromias de esculturas mineiras no século XVIII. As amostras foram analisadas através de métodos físico-químicos e microscópicos de análise, tais como microscopia de luz polarizada (PLM) e testes microquímicos, microscopia e microssonda eletrônica (SEM/EDX), espectrometria e microespectrometria no infravermelho por transformada de Fourier (FTIR), espectroscopia no ultravioleta/visível (UV/VIS) e cromatografia gás-líquido(GC). Os resultados obtidos indicam a utilização extensa de branco de chumbo misturado ao carbonato cálcio (cerusa), indigo, azul verditerra, vermelhão, vermelho de chumbo e azul da Prússia, este último mais utilizado nos altares datados da segunda metade do século XVIII e início do século XIX. Verdigris e resinato de cobre também foram identificados em altares da segunda metade do século XVIII e do início do século XIX, caracterizando um uso tardio destes pigmentos em Minas, relativamente ao seu uso na Europa. As bases de preparação seguem exatamente o padrão das bases italianas do século XV e as instruções de Felipe Nunes, em seu tratado de pintura do século XVII, sendo pioneiramente descoberto, em Minas Gerais, o uso de caolim como substituto do gesso grosso. As carnações são a óleo, tendo sido identificado o óleo de linhaça como aglutinante. Além dos douramentos a agua, foram pioneiramente identificados douramentos a óleo e com pó de bronze, técnicas até o presente não documentadas em Minas Gerais. Os materiais e técnicas utilizados para a execução de chinesices seguem exatamente a técnica européia para a produção destas imitações, evidenciando que a autoria destas é devida a portugueses ou mesmo mineiros que tiveram acesso aos textos técnicos europeus da época, e não a possíveis orientais ou portugueses que tenham aprendido a técnica original na China, como descrito na literatura de história da arte colonial em Minas Gerais. A identificação de proteínas presentes nas amostras foi efetuada através da adaptação de um método de análise de aminoácidos para a análise específica de micro-amostras de pintura, representando uma contribuição ao desenvolvimento de técnicas analíticas avançadas para a identificação de materiais orgânicos em pinturas e obras de arte. A espectrometria e microespectrometria no infravermelho por tranformada de Fourier foram extensamente utilizadas na caracterização de veladuras, carnações, esgrafiados. A combinação de técnicas analíticas como PLM e FTIR mostrou-se extremamente útil para a caracterização de materiais presentes nas camadas de pintura e bases de preparação (pigmentos e aglutinantes). Os dados de FTIR, analisados juntamente com os dados de GC, permitiram a caracterização dos meios protéicos e oleosos.

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