quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

A oficina do artista,
ou as relações entre a ciência e a arte a propósito de uma imagem

A actual imagem do artista, de origem romântica, está associada a inspiração e irracionalidade e, portanto, a sua arte em nada parece estar relacionada com a ciência. Um desenho de Stradanus (1523-1605) que representa a descoberta da pintura a óleo por Jan van Eyck (c.1395-1441) dá conta de uma outra realidade: um pintor, com o estatuto de artífice, a desenvolver a sua actividade numa oficina, de acordo com o estabelecido num minucioso contrato, seguindo os mesmos modelos dos outros pintores, auxiliado por ajudantes que laboriosamente lhe preparam os materiais e o equipamento ou aprendem a desenhar. O prolongado contacto com os materiais de pintura que ocorre neste contexto proporciona um conhecimento empírico dos materiais e das suas propriedades, nomeadamente dos pigmentos e das tintas, que permite o uso racional nas obras que só actualmente pode ser convenientemente explicado. Neste espaço da oficina de pintura, arte e ciência estão intimamente relacionadas. A propósito deste desenho é ainda mencionada a dependência da arte em relação aos desenvolvimentos da ciência e da tecnologia que ao longo da história lhe têm proporcionado os materiais e, por outro lado, a contribuição dada à matemática pela descoberta da perspectiva linear pelos pintores do século XV.

Resumo de: António João Cruz, “A oficina do artista, ou as relações entre a ciência e a arte a propósito de uma imagem”, Interacções, 3, 2006, pp. 87-101

O artigo completo está disponível em http://nonio.eses.pt/interaccoes/verartigo.asp?cod=34.

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