Em busca da imagem original: Luciano Freire e a teoria e a prática do restauro de pintura em Portugal cerca de 1900
A partir de afirmações fragmentárias que se encontram em diversos textos, especialmente num relatório de natureza memoralística escrito na década de 1930, pretende-se reconstituir, tanto quanto possível, a teoria e a prática do restaurador Luciano Freire (1864-1934), que interveio em muitas das mais importantes pinturas dos museus portugueses. De acordo com as suas palavras, essas intervenções justificaram-se sobretudo pelos danos que os restauradores do passado causaram às pinturas, quer através de repintes, as situações mais frequentes, quer através de limpezas, as situações piores, e pelos danos devidos às condições a que as obras foram expostas. Tiveram como objectivo geral a recuperação da imagem original. Em princípio, Luciano Freire era adepto da limpeza completa de sujidades e vernizes e remoção de retoques e repintes, tal como era feito na National Gallery, em Londres, mas na prática admitia que não fossem levantados os retoques e repintes bem realizados e em bom estado. Considerava que as lacunas devem ser integradas e, dividido entre a recuperação da imagem original e o respeito pela obra original, geralmente acabava por considerar que os retoques miméticos só podem ser realizados quando há vestígios suficientes para servirem de guia. Portanto, o retoque tem limites que, no entanto, reconhece, ultrapassou algumas vezes. Embora não tenha usado a radiografia, atribuía grande importância à documentação das suas intervenções, quer através da fotografia, quer através de outros meios.
Resumo de:
António João Cruz, “Em busca da imagem original: Luciano Freire e a teoria e a prática do restauro de pintura em Portugal cerca de 1900”, Conservar Património, 5, 2007, pp. 53-83.
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