segunda-feira, 23 de maio de 2011

Metodologia e linguagem de trabalhos académicos
(1) Gestor de referências bibliográficas

A investigação científica em qualquer área envolve a pesquisa bibliográfica e o conhecimento das publicações já existentes sobre o assunto estudado. Por outro lado, qualquer texto de natureza académica ou técnica tem que estar solidamente alicerçado nessa bibliografia que, além disso, tem que ser claramente identificada.

Portanto, quando alguém se inicia na investigação e nos consequentes trabalhos da escrita começa também com o problema, se não o tinha já antes, de manter listas bibliográficas, por exemplo, com os estudos que já tem ou que necessita obter, os que já leu ou que estão à espera de leitura, ou os que incidem sobre um aspecto ou que incidem sobre outro. Além disso, é importante que qualquer uma dessas referências bibliográficas possa ser rapidamente encontrada, ou relacionada com outras, ou objecto de anotações e comentários. À medida que o trabalho prossegue o número dessas referências pode crescer muito rapidamente e, mais cedo ou mais tarde, acaba sempre por ser indispensável o uso de um ficheiro bibliográfico, com fichas de cartolina como acontecia até há alguns anos atrás, ou, como é possível agora com muitas vantagens, o uso de uma base de dados bibliográfica.

Actualmente estão disponíveis diversas bases de dados bibliográficas, muitas das quais são, aliás, muito mais do que isso pois têm uma outra importante função: permitem introduzir automaticamente num texto as referências bibliográficas formatando-as de acordo com a norma pretendida. O software desse tipo é por isso mais adequadamente designado como gestor de referências bibliográficas.

Neste tipo de software, de uma forma geral, cada espécie bibliográfica pode ser introduzida manualmente ou, com muito menos trabalho, automaticamente a partir de bases de dados e catálogos bibliográficos existentes na internet, fazer parte de diversas listas, ser encontrada através de diferentes tipos de pesquisa e com diferentes critérios e ser automaticamente usada num texto sem necessidade de ser escrita vezes sem conta, repetidamente, com dantes acontecia.

O Endnote é, já há alguns anos, o programa mais conhecido, mas recentemente o Zotero, primeiro, e o Mendeley, depois, têm ganho alguma popularidade. Eu pessoalmente uso o Biblioscape desde 2004, pois nessa ocasião me pareceu ser o que, de longe, tinha mais funcionalidades. Hoje a respeito de vários aspectos as diferenças do Biblioscape em relação aos outros são menores, eventualmente perdendo na comparação a respeito de algumas funcionalidades, mas continuando a ganhar a respeito de outras. As principais vantagens que tem estão relacionadas com as possibilidades de importação de referências bibliográficas da internet e as possibilidades de formatação. Enquanto os programas que tenho experimentado estão (ou estavam) limitados à importação de referências a partir de bases de dados que disponibilizam os dados num número limitado de formatos de importação e, de igual forma, estão (ou estavam) limitados à formatação das referências bibliográficas num documento de acordo com um número limitado de normas, o Biblioscape tem a grande vantagem de facilmente permitir acrescentar todas as possibilidades que se quiser a esse respeito. Ou seja, com facilidade permite definir novos formatos de importação, possibilitando a obtenção de informação de qualquer base de dados, bem como facilmente permite definir novas normas bibliográficas, tornando possível a formatação automática das referências para qualquer publicação.

Sendo os gestores de referências bibliográficas programas com diferentes tipos de funcionalidades, a escolha de cada um deverá basear-se, além de outros aspectos, nas funcionalidades que são mais importantes para cada um. Sem pretensão de exaustividade, algumas das funcionalidades que poderá ser importante avaliar no que diz respeito às suas possibilidades e facilidade de uso são as seguintes:

  • formatos de importação de referências;
  • campos de dados;
  • integração no browser;
  • organização das referências na base de dados;
  • tipos e critérios de pesquisa;
  • velocidade de pesquisa (no caso de bases de dados com vários milhares de referências);
  • acesso directo às espécies bibliográficas em formato digital;
  • acesso em rede;
  • formatação das referências;
  • integração no processador de texto;
  • manutenção e perspectivas de desenvolvimento do software.

Além disso, há ainda questões como o custo, pois alguns são gratuitos mas outros não, ou o sistema operativo usado, pois alguns correm apenas no Windows enquanto outros são de uso mais geral.

Uma lista dos principais gestores de referências bibliográficas, com indicação do local onde podem ser obtidos (no caso dos programas pagos geralmente existe uma versão gratuita de demonstração) e as suas principais características está disponível aqui.

Independentemente da escolha de cada um, parece-me que este tipo de software é quase tão indispensável a quem se dedica à escrita em contexto académico como um processador de texto.

Comentários:

Comentário de Lina Falcão :

Muito útil Professor, obrigada por partilhar estas informações.
Deixo uma sugestão, não quer voltar a organizar um curso sobre a utilização deste tipo de software?
Lina Falcão

Ivo Férin :

Obrigado pelas dicas sobre gestão de bibliografias. Estou neste momento a catalogar a minha crescente biblioteca de livros e artigos em pdf (+600), estou a usar um programa opensource Mac de gestão de bibliotecas chamado Calibre, não faz gestão de citações ou parecido mas é muito bom e rápido a auto preencher as fichas de cada entrada. Após afinações nas tags de cada entrada, vai-me permitir fazer buscas de artigos e livros específicos muito rapidamente.
Já explorei o Endnote e achei muito pouco intuitivo. Vou ver como são os outros.

Ivo Férin

Rita Rodrigues :

Obrigada por partilhar estes comentários que serão sempre muito úteis na vida de um estudante e de um investigador!
Obrigada Professor!