sexta-feira, 27 de maio de 2011

Metodologia e linguagem de trabalhos académicos
(3) O erro dos raios X

Em finais de 1895, Wilhelm Conrad Röntgen descobriu um novo tipo de radiação electromagnética. Por causa da sua natureza misteriosa, já que parecia exibir propriedades bem diferentes das dos outros tipos de radiação então conhecidos, atribuiu-lhe a designação X, da mesma forma que numa equação matemática aquilo que é desconhecido é representado pela incógnita x. Pela descoberta ganhou em 1901 o primeiro prémio Nobel da Física.

Qualquer radiação electromagnética é formada por raios e estes, ultimamente com muita frequência, vêm sendo designados em textos em português por “raios-X”, com hífen, quando a designação correcta é “raios X”, sem hífen.

O erro tem rapidamente proliferado devido ao uso desta radiação por um grande número de métodos de exame e análise de obras de arte como, por exemplo, a radiografia, a espectrometria de fluorescência de raios X, a espectroscopia de raios X ou a difractometria de raios X.

Trata-se claramente de mais um erro de tradução da designação inglesa “X-rays”, resultante de apressado mimetismo, que é favorecido pela actual tendência de desvalorização da literatura técnica de língua portuguesa. A tradução que agora se faz é completamente desnecessária por a designação em português para essa radiação já existir na forma escrita desde 1896 (H. Teixeira Bastos, “Raios X de Röntgen”, O Instituto, 43, 1896, pp. 38-41), criada numa ocasião em que, em média, era bem melhor do que actualmente o domínio da língua portuguesa por parte de quem escrevia. E como ilustração do uso possivelmente exclusivo da designação “raios X” em tempos bem mais recentes, mas anteriores a este tipo de influências da literatura em inglês, aí, estão, por exemplo, as publicações que surgiram na década de 1990 a propósito da comemoração do centenário da descoberta dos raios X. Ou, mais simplesmente, a entrada de um dicionário de português.

Portanto, “raios X” e não “raios-X”.

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