Metodologia e linguagem de trabalhos académicos
(2)De energia dispersiva ou dispersivo de energia?
Há vários métodos de análise com designações em inglês de que consta a indicação “energy dispersive” como, por exemplo, “energy dispersive X-ray spectroscopy” ou “energy dispersive X-ray fluorescence spectrometry”.
Com muita frequência “energy dispersive” surge em português como “energia dispersiva”, tal como em “espectroscopia de raios X de energia dispersiva” ou “espectrometria de fluorescência de raios X de energia dispersiva”.
Porém, a construção frásica em inglês e português é diferente e, por outro lado, do ponto de vista físico “energia dispersiva” não tem qualquer sentido. É que, como se pode ver num simples dicionário de português, dispersivo é um adjectivo que significa “que produz dispersão” e neste contexto a energia referida não é usada para provocar coisa nenhuma, sendo pelo contrário aquilo que é estudado.
O que acontece é que num método como os referidos, a radiação emitida pelo material analisado é separada ou decomposta segundo a sua energia, sendo determinada depois a intensidade dessa radiação em função da energia. Ou seja, a radiação é dispersa de acordo com a sua energia. Esta informação é importante porque não tem que ser assim, já que alguns equipamentos analisam a radiação em função do seu comprimento de onda, isto é, são dispersivos de comprimento de onda, e os resultados obtidos desse modo, além de envolverem tempos de aquisição diferentes, proporcionam informação algo diferente, tornando-os mais adequados a algumas situações e menos adequados a outras.
Vendo-se um espectro, o documento que regista os resultados da análise efectuada por qualquer um desses métodos, sabe-se imediatamente qual o tipo de equipamento usado, conforme no eixo horizontal está representada a energia ou está representado um ângulo.
Ou seja, o que inglês é “energy dispersive” é em português “dispersivo de energia” ou “dispersiva de energia”, conforme a designação a que se aplicar, e, portanto, os dois métodos no início referidos como exemplos são correctamente designados em português como “espectroscopia de raios X dispersiva de energia” e “espectrometria de fluorescência de raios X dispersiva de energia”, respectivamente.
Comentários:
Antes de mais, agradeço muito o seu esclarecimento.
E relativamente às siglas?
SEM-EDS - scanning electron microscopy - energy dispersive x ray spectroscopy, e em português MEV-EDE - microscopia electronica de varrimento - espectroscopia de raios x dispersiva de energia.
Estão correctas?
Obrigada,
Inês Cardoso
Não seria mais correto dizer "... por dispersão de energia"?
Em termos físicos, salvo melhor opinião, julgo que estão as duas expressões igualmente correctas. Em termos gramaticais, sinceramente não me posso pronunciar.
Numa época tão marcada pela terminologia inglesa e pela simplificação linguística, parece-me que a expressão dispersiva de energia, por ser mais semelhante à expressão inglesa e ter menor número de palavras, mais facilmente terá o seu uso expandido.
Senhor Professor Doutor António João da Cruz,
Os meus parabéns pelo seu blogue, extremamente útil e informativo, mesmo para quem não é da área das ciências da Conservação.
Se me permite, venho colocar-lhe uma dúvida: tenho em mãos a finalização de uma tradução de uma palestra de Maurizio Seracini, na TED Talks, sobre os frescos perdidos de Leonardo da Vinci. A certa altura, ele refere-se aos exames a que submeteu os fragmentos que encontrou - XRF, Difração de Raios X, etc. A sigla XRF refere-se à palavras inglesas.
No meio científico português só há referência à Fluorescência de Raios X, usando a sigla inglesa ou há uma sigla em português, reconhecida por todos?
Com os melhores cumprimentos,
Isabel Vaz Belchior
Em português é comum o uso da sigla FRX. Esse uso, no entanto, deverá ser limitado a textos em que todas as outras siglas de métodos estão também em português. Se isso não for possível, acho que, por uma questão de coerência, é preferível usá-las todas em inglês.
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