Metodologia e linguagem de trabalhos académicos
(4) A diferença entre fluorescência e espectrometria de fluorescência
Um dos métodos de análise química mais usados no estudo das obras de arte é a espectrometria de fluorescência de raios X: faz-se incidir um feixe de raios X com uma certa energia sobre o material a analisar, este absorve essa radiação e de imediato emite raios X menos energéticos. Este fenómeno de absorção seguida de emissão de radiação é designado por fluorescência, neste caso fluorescência de raios X porque resulta da acção dos raios X incidentes, e a radiação emitida, naturalmente, por radiação de fluorescência.
Esta é constituída por radiação com diferentes energias, que são características dos elementos químicos presentes no material, independentemente da forma como se encontram combinados. Por isso, através da medida da energia desses raios X de fluorescência e sua intensidade é possível determinar os principais elementos químicos constituintes do material e calcular as respectivas concentrações.
Este método foi o primeiro a basear-se em princípios que permitem obter informações sobre a composição química das obras de arte sem lhes causar qualquer dano, pelo que quando surgiu o primeiro equipamento a oferecer essa possibilidade, cerca de 1970, o mesmo foi designado como “o instrumento de sonho do conservador” (Victor F. Hanson, “The curator's dream instrument”, in W. J. Young (ed.), Applications of Science in Examination of Works of Art, Boston, Museum of Fine Arts, 1973, pp. 18-30).
Nos equipamentos mais comuns, a decomposição dos raios X emitidos com vista à determinação da composição química do material analisado é efectuada com base na sua energia, pelo que nessa situação é costume acrescentar-se ao nome “espectrometria de fluorescência de raios X” a indicação “dispersiva de energia”, já que há igualmente equipamentos “dispersivos de comprimento de onda”, isto é, que decompõem a radiação segundo o seu comprimento de onda.
Portanto, num estudo pode dizer-se que se determinou a composição de um material a partir da fluorescência de raios X, isto é, aproveitando esse fenómeno, ou por espectrometria de fluorescência de raios X, isto é, usando esse método de análise ou o respectivo equipamento. Obviamente a tendência de simplificação da linguagem, particularmente a linguagem oral, leva a que seja frequente referir-se apenas a “fluorescência de raios X” ou, quando interessa ou se quer identificar o tipo de detector, “fluorescência de raios X dispersiva de energia”. O problema é que esta última designação está errada. É que a característica de ser dispersivo de energia é uma característica do equipamento (o espectrómetro) ou do método (a espectrometria), mas não tem nada que ver com o fenómeno de fluorescência. O ser dispersivo de energia ou dispersivo de comprimento de onda está relacionado com o tipo de detector constituinte de um equipamento e por consequência com o método que faz uso desse equipamento, mas a fluorescência é um fenómeno físico que ocorre independentemente da sua detecção e, portanto, do detector usado para a sua detecção. A fluorescência é apenas fluorescência e não é dispersiva de coisa nenhuma.
Assim, está correcto “fluorescência de raios X”, “espectrometria de fluorescência de raios X” e “espectrometria de fluorescência de raios X dispersiva de energia”, mas não “fluorescência de raios X dispersiva de energia”.
De qualquer modo, como já referi noutro sítio, é sempre “raios X” e não “raios-X” e, como também já aqui mencionei, a espectrometria de fluorescência de raios X é “dispersiva de energia” e não de “energia dispersiva”.
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